sábado, abril 21, 2007

Confesso...

A garota da praia era bonita mesmo, igual ao mar...
Ou melhor, bonita igual ao sol...
Deu adeus de noite pra poder se deitar,
E de dia reapareceu (com um sorriso bonito) aqui no farol...

A garota da praia tinha os olhos da cor do coral...
Mas coral é pouco pra descrever o seu olhar!
Tinha a mesma firmeza de uma ilha do atol
Que vaga distante, perdida nas ondas castanhas do mar...

A garota da praia tinha os cabelos queimados do sol
Que sacudiam com os beijos rápidos do sudoeste...
Que bailavam, regidos por um alaúde espanhol
Que se sacudiam como o vento sacode o Cipestre...

A garota da praia tinha um corpo esculpido por um Deus!
Serafins e sílfides moldaram sua cintura e seios, com mantos...
Efesto forjou a mais bela face que sua mente concebeu!
E Era selou sua alma com amor, bondade e acalanto...

A garota da praia olhou pra mim por quase um segundo!
Sorriu, e voltou sua face pro mar com naturalidade.
Senti um pesar, por estar preso na minha "mortalidade"...
Mas mesmo assim, senti toda alegria do mundo!

A garota da praia, talvez nem seja tão perfeita assim...
Talvez nem exista!Talvez seja um truque dos Anjos!
Pra que um menino sem sonho, tenha um sonho em fim!
E com ele sonhe por todas as noites, por todos os anos...

A menina da praia se foi no final do Verão...
Levou seus olhos perdidos na vastidão castanha do mar...
Levou de um menino, seu medo de sorrir e seu ódio de amar...
E levou do menino, uma parte importante de seu coração...

(Gabriel Gomes Ferrão)

sexta-feira, abril 13, 2007

Elogio a loucura - Erasmo de Roterdan

"Pretendeis misturar o fogo com a água, pois a Loucura e a Prudência não são menos opostas que esses dois elementos contrários. — Não obstante sentir-me-ei lisonjeada por vos convencer disso, desde que continueis a prestar-me vossa gentil atenção.Se a prudência consiste no uso comedido das coisas, eu desejaria saber qual dos dois merece mais ser honrado com o título de prudente: o sábio que, parte por modéstia, parte por medo, nada realiza, ou o louco, que nem o pudor (pois não o conhece) nem o perigo (porquenão o vê) podem demover de qualquer empreendimento.O sábio absorve-se no estudo dos autores antigos; mas, que proveito tira ele dessa constante leitura? Raros conceitos espirituosos, alguns pensamentos requintados, algumas simples puerilidades — eis todo o fruto de sua fadiga. O louco, ao contrário, tomando a iniciativa de tudo, arrostando todos os perigos, parece-me alcançar a verdadeira prudência. "